Construção de Belo Monte pode ser antecipada (e onde fica a Sustentabilidade?)

Ao ler o Estadão agora de manhã, fiquei surpresa com a matéria “Obra de Belo Monte pode ser antecipada”. A construção da usina, considerada polêmica, fez com que eu pesquisasse algumas informações de especialistas, retiradas do site do ISA (Instituto Socioambiental),  para deixar aqui a minha indignação com o modelo de desenvolvimento “a qualquer custo”, que está na cultura dos nossos governantes.

Não há como o governo negar que o processo de licenciamento foi conduzido de forma atropelada, baseado no cronograma eleitoral. O Ministério do Meio Ambiente liberou Belo Monte sem conhecer todos os impactos socioambientais da obra. O parecer técnico do Ibama, do final de novembro de 2009 e que não foi disponibilizado na internet, denuncia pressão política da Presidência da República para liberar a obra e indica que os estudos, superficiais, não conseguem prever o que acontecerá com os peixes num trecho de mais de 100 km de rio e, conseqüentemente, com as pessoas que deles sobrevivem, sobretudo as comunidades indígenas ribeirinhas.

Opinião de especialistas

“Enquanto a alternativa hidrelétrica era sempre apresentada como uma forma energética limpa, renovável e barata, e cada projeto era justificado em nome do interesse público e do progresso, o fato é que populações ribeirinhas, entre outros, tiveram violentadas as suas bases materiais e culturais de existência”, aponta o especialista em energia Célio Bermann, professor do Programa de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Coordenação do Programa Brasil Sustentável e Democrático. “Mesmo que no Brasil seja oficialmente considerada uma fonte de energia limpa, nos Estados Unidos e na Europa as usinas hidrelétricas são avaliadas como um tipo de tecnologia cara e destrutiva ao meio ambiente”, informa Glenn Switkes, da International Rivers Network (IRN).

Para Sônia Barbosa Magalhães, professora da Universidade Federal do Pará, entrevistada pelo ISA em meados de 2002 quando era do Museu Goeldi, além da alteração de vazão de rio, com mudança de regime de inundação e conseqüências para a agricultura, afluxo populacional e desestruturação fundiária, o ‘boom’ das grandes hidrelétricas no país e o conceito de impactos diretos e indiretos em disputa nessas obras são fatores muito preocupantes. ”O impacto é generalizado, pois mexe na raiz de todo o funcionamento do ciclo ecológico da região. Entre a Volta Grande do Xingu e Belo Monte, o nível d’água vai ficar bem abaixo da maior seca histórica e, rio acima, ficará permanentemente cheio, num nível superior à maior cheia conhecida”.

Com a cheia permanente, as árvores irão resistir alguns meses, mas depois vão morrer, com o afogamento das raízes. “Essas árvores servem de dieta para muitos peixes, por exemplo, o que gera impacto sobre a fauna e, conseqüentemente, para todo o ciclo ecológico da área. Além disso, muitos peixes sincronizam a desova com a cheia e, portanto, na parte que vai ficar muito seca, é possível que haja diminuição de diversas espécies“. Outro ponto é que a vida do índio e do caboclo está diretamente relacionada a esses ciclos sazonais, quando você muda este ciclo altera o ‘motor do sistema’, com reflexos imediatos e sérios para a população”, acrescenta Sônia.

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