A evolução da escrita em debate

Iniciada em abril de 2010, a série de encontros mensais Nós Digitais, promovida pela ESPM RJ em parceira com o Globo Universidade, oferece ao público uma reflexão gratuita, sempre na última segunda-feira do mês, sobre o cenário da comunicação atual e da condição humana mutante no universo da modernidade.

O terceiro encontro do ciclo, realizado no último dia 30 de agosto no teatro Oi Casa Grande, no Leblon, teve como tema O nascimento e desenvolvimento da escrita e contou com a presença de Paula Sibilia, professora do Departamento de Estudos Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora do livro O Show do Eu – A intimidade como espetáculo, como palestrante.

Com uma narrativa simples e direta, Paula inicia a palestra estabelecendo a trajetória da escrita ao longo do tempo, desde os papiros e pergaminhos, passando pela ideia de bibliotecas e enciclopédias como formas de acúmulo do saber humano, até a realidade da escrita digital dos tempos de hoje. Utilizando recursos audiovisuais como aliados de seu discurso, a palestrante fala sobre o contexto histórico da escrita, mostrando a criação do conceito de interioridade no final do século XVIII, o que originou o perfil do sujeito introspectivo, tão retratado nos romances da época. Jane Austen e Virgínia Wolf são alguns dos nomes citados pela professora como contribuições significativas para a constituição do ser humano moderno. “A leitura e a escrita são aliadas deste então homem moderno que se auto constrói através da literatura”.

Paula considera a morte do narrador oral um importante marco para as mudanças que viriam a ocorrer no modo de vida do burguês dos séculos XIX e XX. Segundo ela, a febre da internet e das redes sociais colocou o indivíduo em constante necessidade de compartilhar sua intimidade, pondo fim à introspecção e solidão dos personagens dos livros de 1800. “Os conceitos de público e privado estão sendo modificados. Esta é a grande discussão do momento. Acredito que nossas idéias oitocentistas estão sendo deixadas para trás, mas a nossa perplexidade com este universo expositivo ainda é fruto de uma herança deixada por elas”.

Quando questionada sobre a força das redes sociais, Paula enfatiza as fragilidades e vulnerabilidades que estas novas ferramentas podem provocar, além de questões éticas e morais, mas acredita em seu potencial inovador. “O ser humano é plástico, uma matéria que pode ser modificada a todo momento. Estamos nos reinventando com estas ferramentas digitais e se até hoje já mudamos desta forma, imagina o quanto ainda não podemos alcançar?”.

Luiza Marinho

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